segunda-feira, janeiro 29, 2007

A iminência do meu ser

"Eu nunca estive aqui, neste corpo. E se alguma vez estive, não me lembro.Aquilo que transporto, todos os dias, é uma carcaça vazia, que muito de vez em quando se enche com algum sentido quando cruza um olhar qualquer, que lhe dá vida. Sem ele não existo. Ou melhor, existo em potência, na iminência de ser olhado. E esse é seria o estado que preferia estar para sempre: suspenso na possibilidade de ser."

João Fiadeiro, Setembro 2005

No meu primeiro ano em Lisboa, fui com a Marta ver os Laboratórios Coreográficos na Fábrica da Pólvora, organizados pelo João Fiadeiro. Foi o meu primeiro contacto com a chamada Nova Dança Portuguesa ou a Maldita como muita gente acha, pois as pessoas não dançam e então é uma seca e intelectualizam muito e roubam os subsídios e os apoios e são uns sacanas estes gajos das danças alternativas!!!se em vez de pensar dançassem é que era! Quero lá eu saber o que eles pensam eu quero é que eles se mexem e me entretenham! Isto não é o que eu penso mas se eventualmente ninguém pensa assim que me caia já o parafuso do pé!(espera....) Bom o parafuso ainda não me caiu e continua a não me cair por isso há muita gente a pensar assim(eu sabia!!). Bom eu não penso assim, porque eu não penso, eu danço, ou se faz uma coisa ou outra, agora as duas ao mesmo tempo é que não dá.....Estou a brincar. Eu penso. E danço. E sei que há lugar para tudo, ainda que eu possa não gostar, que não é o caso...
Agora deixando a conversa fiada e passando para coisas interessantes....eu tiro o chapéu ao João Fiadeiro.

"Eu nunca estive aqui, neste corpo. E se alguma vez estive, não me lembro.Aquilo que transporto, todos os dias, é uma carcaça vazia, que muito de vez em quando se enche com algum sentido quando cruza um olhar qualquer, que lhe dá vida. Sem ele não existo. Ou melhor, existo em potência, na iminência de ser olhado. E esse é seria o estado que preferia estar para sempre: suspenso na possibilidade de ser."

Porque ele nunca esteve naquele corpo e se esteve não se lembra, pois o que está habituado a transportar é uma carcaça vazia ,diz ele, um invólucro vazio digo eu,e de quando em vez cruza-se o olhar com alguém e aí ele tem vida...ou seja para o João Fiadeiro existimos na iminência de nos podermos revelar através do olhar de alguém. Existemos na iminência de ser olhados por alguém que repare em nós, alguém que veja que existimos. Acho isto mesmo interessante.
O defeito das grandes cidades (para alguns) não é o anonimato? É! Mas o problema não é das grandes cidades isso é a desculpa daqueles que lá habitam para não olharem para ninguém , para não estarem nunca suspensos na possibilidade de ser deles próprios ou na possibilidade de ser dos outros. De facto é real, todos nós CLARAMENTE vivemos suspensos na possibilidade de ser....o problema é que ficamos muitas vezes submersos nessa possibilidade, já dizia Eugénio de Andrade:

"Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos"

Precisamente o que mais gosto nas grandes cidades é o estar "suspenso na possibilidade de ser" para alguém...no palco também se sente essa suspensão, não que eu seja um grande "animal" de palco, porque não sou, mas sempre que lá estamos, estamos a acontecer, estamos a ser se o público nos deixar e nos quiser, obviamente.
E agora já estou farta de escrever e não falei sequer sobre a dança do Sr. Fiadeiro. Mas agora já não quero saber, já não me apetece.
Vou sair e perder-me na minha possibilidade de ser ou quem sabe na de alguém....

1 comentário:

Tiago Pereira da Silva disse...

já actualizavas o te blog não ??
lol
jocas e continua gostei muito